Estórias começam sempre com um “era uma vez...”, daqueles que mostram o quão linda elas parecem. Mas tão triste a ponto de não percebermos o que verdadeiramente “foi”. Isso mesmo, passado. E só há uma coisa que faz tudo aquilo valer à pena: o momento em que a estória se torna uma história.
E daquelas que só ganham sentido quando, o que se sentiu foi tão bom, a ponto de imaginar duas cadeiras de balanço juntas na varanda da casa, esperando uma menina, tão linda quanto a avó, lhe pedir:
— Vô, me conta a história de vocês dois.
E ao final de tudo, com lágrimas nos olhos, a guria perguntaria, como se entendesse:
— Vô, e será que eu vou viver uma história dessas? Ter alguém que me ame como o senhor amou a vovó?
E antes que qualquer outra palavra saísse da boca daquele anjo, ele responderia, com a maior naturalidade, como vivera toda a sua vida... simples:
— Ninguém vive a história dos outros, minha menina. Cada um tem o seu próprio livro para escrever. Aquele livro que registramos sempre, as coisas mais importantes da nossa vida: nossas escolhas, nossos erros... e o principal: nossos amores. Tudo aquilo que um dia passou e deixou uma marca em nós, marcas que podem ser tão lindas quanto uma tatuagem, ou tão triste quanto uma cicatriz. Portanto, mais do que desejar uma história igual a nossa, minha filha, deseje viver para alguém que te ama de verdade, pois dessa maneira, cada dia não será só mais um dia e, assim como faço agora, quando você ler o livro para seus netinhos, você sentirá uma vontade imensa de retornar ao passado e viver tudo novamente.
Com olhar de seriedade, ela ainda olharia para o avô e proferiria uma ultima pergunta, já acreditando no amor que ele lhe contara:
— Mas e quando eu saberei que encontrei o meu verdadeiro amor?
Com um sorriso gigante, e uma mão no rosto daquele anjo pequeno, o avô responde:
— Não saberá na hora que encontrá-lo, meu amor. Só sentirá que é a pessoa certa, quando todas as outras não significar o que ele é para você. Quando a vontade de estar com ele for tão imensa quanto o maior dos seus sonhos.
Com o contagioso sorriso do avô ela o escutaria falar, suas ultimas palavras, em tom de despedida, como se nunca mais tornasse a vê-la:
— Antes de ouvir qualquer pessoa, minha filha, viva para o seu amor, como para si própria: conte para ele o que seu coração sente, sem mentiras ou fantasias. Se ele acreditará ou não, já não cabe a você.
Com o mais sereno dos olhares, direcionado para a outra cadeira de balanço, onde estava a sua “Princesa mais linda do Castelo da bruxa Keka”, ele diria:
— Assim vivi a minha vida... algumas vezes a fiz chorar, mas os risos que vi neste rosto, foram tão imensamente maiores do que qualquer lágrima que ela tenha derramado, minha florzinha.
E como um detalhe da história, a menina olha para a avó, que naquele momento perdera o nome, e passou a se chamar “Princesa mais linda do Castelo da bruxa Keka”. E lembrando o que ela tanto imaginava nas estorinhas que lera, a vovó começou a despertar na cadeira de balanço, mas com a maior das lágrimas que ela já tenha visto e, então, percebera que a princesa tinha ouvido tudo o que falou seu avô. E, naquela hora, ela perceberia que, o seu maior sonho, seria achar alguém que lhe dissesse onde fica o seu castelo.
P.S.: Como estórias remetem a fantasias e histórias nos contam sobre o passado, o que se apresenta aqui não se encaixa em qualquer forma de definição, pois ainda não existe termos para o que nos fala do futuro, para o que nos mostre as escolhas, mesmo que já traçadas.
- Genilson Oliveira

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